domingo

Poética Cósmica do Quintal


Um fio do universo caiu em meu quintal,
E ali, entre as flores, ficou dependurado.
Balançava galáxias e nebulosas formosas,
E exalava um silêncio próprio de cometas em movimento.
As vezes se escurecia a ponto de quase desaparecer,
Não fosse o balanço, centelhas de enigmas.
Mas ali permanecia...
Fio comprido feito fio de macarrão.
Mole, espesso, suave, intenso.
Que gosto teria se eu o sugasse?
Um fio com molho de nano-planetas, micro-meteóros,
Minúsculos sóis, moléculas lunares.
Macarronada cósmica.
Desejo impelia o toque.
Fome incitava a devorar.
Corpo inclinava a embaraçar.
Aproximava-me entre espasmos,
Relâmpagos e micro-fusões. 
A cada passo minhas vísceras trepidavam,
Meus pés tropeçavam,
Boca salivava, olhos em transe.
E derrepentemente...num sorrateiro susto.
Fio encolhe como um caracol e some buraco acima.
Em síncope, sinto o corpo diluído, derretido,
Amalgamando-se à poeiras estelares.
E estendida no chão, ainda quente,
Ouço uma valsa dissonante saindo dos poros da terra.
Todas as coisas em minha volta começam a dançar freneticamente.
Flores, vassouras, farelos, baldes, papéis, formigas...
Muros, água, luzes, postes, nuvens, estrelas, luas...
Dedos, dentes, pelos, mamilos, cheiros e ruídos.
Dançam os restos suados.
A multidão.



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