quinta-feira

QUANDO ME FALA O POEMA

Roça-me os ouvidos a tua voz,
Brisa fresca velejando através de rios de distâncias.
Teu timbre tem a textura aveludada das pétalas de uma flor,
E balança, entre uma e outra palavra, através do vento que emana de sua respiração,
A sinto! Morna se entornando, adentrando-me,
Escorregando lentamente e prazerosamente para dentro de mim,
Preenchendo-me de sons que vibram, ecoam e estremecem minha carne.
Por vezes, tua voz é um vulcão em erupção, emanando palavras lavas que me queimam a pele,
Esfumaçam meus sentidos e me fazem arder.
Ardo! E como é árduo ouvi-lo sem tocar-lhe,
Ou, ou, ouvir-lhe é como sentir a sua fala macia tocando meu corpo todo e arrepiando cada fenda em mim.
Toca-me e me leva ao êxtase a tua voz que vagabundeia entre meus ouvidos,
Lambidos, os dois, ao mesmo tempo, ensurdecendo-os,
Quando quente, me grita o seu corpo.
Sua voz com dentes, me morde os afetos, arranca sangue do meu desejo,
Me despedaça, me come toda, me devora...
E ofegante, eu gozo!
Quando me fala o Poema.


domingo

Quando a Poesia encontra o Poema

Lá vai ela... rimando vida à fora,
Tropeçando em seus versos tristes,
Balbuciando no ouvido da noite pequenas infâmias sobre a loucura,
Vira a esquina, tromba com ele e troca de estrofe,
Muda o verso, delira e o verbo pega voo.
Rimando entra no seu mundo, compondo criam outros mundos,
E caminham juntos... em cada passo milhões de estrelas disfarçando-se de palavras. 
Ele é cantor, cria melodias com os versos,
E escreve na pele da vida com a própria voz.
Ela é dançarina, cria coreografia com as rimas,
E escreve nas veias da vida com o próprio corpo.
Ele, Poema, ela, Poesia.
Poema canta e Poesia dança.
Encontro da vibração da voz e do movimento do corpo,
Composição e decomposição da fala, dos gestos, da escrita.
Encontro arte!



quarta-feira

MULHER

Uma mulher nasce e morre quantas vezes forem necessárias em uma vida;
Não tem solidez, é líquida e vive das ondas do mar.
Uma mulher está sempre a procura de um si que não existe, pois se reinventa dia após dia;
É oca, mas não vazia. É que tem sempre a sensação de que tem espaço para mais um vir a ser...
Uma mulher repousa sobre a tormenta dos oceanos, sobre a fúria de um vulcão, e sobre o caos de um terremoto;
E descansa,
Sim, porque sua seiva é a própria tormenta, a própria fura, o próprio caos;
Uma mulher tem várias línguas: as que beijam, as que falam, as que mordem e também as que choram;
É verdade que uma mulher pode chorar pela língua, e talvez é pela pupila dos olhos que sinta o gosto de tudo.
Uma mulher gesta, não apenas pelo útero senão por toda a pele;
Há um feto que nasce em cada poro seu.
Uma mulher é então sempre uma, porque não existe A Mulher.


sexta-feira

DELIRANDO SOBRE O ENCONTRO



Ele tem perfume deLÍRIO,
DelirANDO vou ao seu encontro,
DelirAR nos faz alçar voos,
No delíRIO encontraREMOS corpos diluídos.
EncontrAMOs e nossas peles roçando ... delirAIS.
Meu beijo fará deliREI.
Com nosso encontro delirei, delirei!
E depois que nos encontrAMOs,

Como delIREI? Como delIREI?