quarta-feira

TEUS OLHOS, DUAS BRISAS FRESCAS

Quando de ti saltaram os olhos,
Como dois orvalhos paridos do frescor da manhã,
Pintava em seu rosto uma expressão frouxa,
Pela luz morna que lhe cuspia os poros.
Todo solto, seu cabelo quase fugia de ti,
Para brincar com o vento.
E enquanto caminhava, seus ombros,
Um pouco tortos,
Inclinava você para algum lugar.
Ao mesmo tempo em que teus lábios ruflavam 
No lindo voo do teu sorriso.




TRAVESSIA


Sua boca é um abismo,
Onde meus lábios, para sempre, caem.
Sua boca é um oceano,
Onde nossas línguas como ondas,
Nadam nuas nas profundezas de nossa saliva.




CHOVE

Negro, o céu espera no alto da madrugada,
Os primeiros raios da aurora.
Enquanto estes iluminam outros céus,
Mergulhadas na melancolia da solidão,
As estrelas abrem seu espetáculo bruxuleante,
E são devoradas pelas nuvens escuras que gritam,
Com trovões, seu nome.
Cai macia minha tristeza em chuva,
Respingando em seus sapatos.
E o vento que lhe afugenta a face,
É um sopro noctívago que esvai,
Gemendo em constantes suspiros.


segunda-feira

A CORPO

É dilúculo o soluço entre'ntranhas,
A saltar o líquido espremido permeio as rubras pálpebras.
Ácido fissurando escorrido a face,
Esfacelada, entorta a carne do dia.

Dói o congênito espectro do afeto,
Esperneado nas periferias do desejo.
E se grito as peles a lhe fundirem,
Voltam estéreis, cascas do chão.

Imploro Dentes, mordam a vida!
Mas cuspam as carnificinas,
Roedoras a triturarem a alma.

Que a linha alada vai riacho,
No rastro do seu enigma,
Encharcando-te de terra líquida.










quinta-feira

JAZ

Os olhos que me vinham sorrindo,
Se enrijeceram.
E são, agora, o próprio muro,
De onde escorreu meu nome,
Apagado pelo reboco frio do silêncio,
Que se estendeu entre nossas poesias.


segunda-feira

MORMAÇO

Sua a noite e ainda nem soou o sino que convida:
as oleosas estrelas a deslizarem pelo céu úmido,
entre cabeças de fios molhados.
Derretem os sonhos efervescentes,
borbulhando na intensa fervura dos corpos,
a nudez das chamas da alma.
Noite encalorada!
Teu suor escorre na pele da madrugada,
em riachos de cheiros e oferendas.
Suspira de calor todas as abas do tempo,
E com seus tentáculos queimados,
Esfumaça a morte e acende a vida.



sábado

iLUZtração de hoje

Passa, cômodo a cômodo,
Incômoda, a luz torta do dia.
Entortando a sombra da cômoda,
Mônada do meio-dia.