segunda-feira

CHOVE A NOITE

Estilhaçadas...
As epidermes molhadas surrupiam a noite,
De poças dançantes.
Esbravejam as tessituras avermelhadas
Com seus dentes e partem,
Raio! Línguas brancas estendidas
Sobre o quadril da escuridão.
Canta passaroco, o hiato dos meio-fios,
Desafiando cobertores e esperanças rasgadas.
E algo se move...
Sombras assustadas por gotas
Es-correndo entre veredas,
Desembocando nos becos encharcados d'alma.
Ouço na água que cai um fogo que queima,
E embaça pupilas destiladas.
Quantos punhos fechou, hoje, o céu,
Para tua face tão cheia de silêncios.

sexta-feira

Saudade!
Está aqui agora!
Queimando como uma vela,
Derretendo a solidez dos nossos encontros,
Mas iluminando a escuridão 
Na qual estávamos fantasiosamente mergulhados.


Hoje, a noite chegou
Antes mesmo do dia despedir-se
Veio borrando as esquinas
E silenciando as passagens,
Tua voz escura veio profanar os sentidos
Da rua turva que escorria
Entre sua ausência e minha carne fria.
Toda sombra de concreto
Era o rastro da mudez de nossos corpos
Incalculável letargia dos poros.

À deriva
Cada vez mais longe
Da ilusão de um porto,
Entre tempestades
Todo caos líquido
É silêncio de palavra afogada.