sexta-feira

ENFIM


Entre tudo quanto estive,
Em ti estive menos.
Talvez em tuas estreitezas,
Meus espremidos desejos gotejaram,
E só.
Das cartas que nos iludiam,
Letras embriagadas ainda tentam me enganar,
Saltando do fogo em que as queimo,
Frases de fumaça se esvaindo no ar.
Não, o puro não.
Tropeços incessantes... 
É pau, é pedra, é o fim do caminho.


terça-feira

NOTURNO


Turva, a noite desenha nas silhuetas do horizonte, teus verdes olhos profundos. 
Sobre minha pele mina o desejo feito riachos de saudade. 
E tu desce permeio minha sombra, espantando todos os calafrios da solidão. 
És estrela solitária em noite chuvosa, brilho da lua despencando sob as pétalas orvalhadas.
És mistério que vagueia enebriante pela madrugada.
Teu gosto mora em minha saliva, teus lábios em minha boca, teu corpo em meu corpo, tua alma em minha alma.
Somos deste universo os cometas que riscam a existência.
Somos dessa vida o suspiro que emana dos rios, mares e oceanos.
Somos duas almas entrelaçadas na eterna dança do existir.