Adoro quando o céu chora...
Sem se importar com quem molha,
Sem se importar onde alaga,
Sem se importar com o que arrasta ou faz fluir.
Fazendo-se poça e desviando caminhos caducos,
Barulha nos telhados sua canção melancólica
E pinga gelado nas cabeças efusivas que tempera.
Adoro quando o céu chora...
E sua face enuviada se fecha e escurece,
Transparecendo apenas os raios de lucidez que ainda lhe resta,
Anunciando a estrondosa loucura da qual padece e assusta.
Plantando com as lágrimas a promessa do novo fruto,
Regando com as dores os brotos esverdeantes da vida.
Adoro quando o céu chora...
Porque choro com ele esse choro de chuva,
E pingo com ele respingando o meu líquido.
Escorremos com o nosso lixo pela enxurrada,
Deixando que se desemboquem nos esgotos.
Mas também gotejamos pelas gretas dos Muros,
Umidecendo o cimento que enrijece nossa Vida.